30 setembro 2010

Lei "Kennedy" vai garantir recuperação de drogados.

O drama vivido pelos familiares de usuários de drogas que tiveram suas vidas devastadas pelo problema chamou a atenção do deputado estadual Kennedy Nunes (PP), que solicitou ao governador do Estado, Leonel Pavan, a criação de uma lei que garantisse recursos para a manutenção das entidades que recuperam dependentes químicos. A resposta veio no último dia 28. Pavan acatou o pedido de Kennedy e enviou para a Assembléia Legislativa o projeto de lei que vai garantir a essas clínicas sem fins lucrativos, 0,2% do Fundo Social, o que equivale a R$ 800 mil por ano para custear a manutenção e alimentação dos internos. O projeto que já começa a ser chamado de “Lei Kennedy” deverá ser aprovado com rapidez pelos deputados. De acordo com Kennedy Nunes, a lei não deverá encontrar obstáculos em sua aprovação. “É um projeto que prevê a fonte do recurso e por isso deverá ser aprovado de forma rápida na Assembleia”, comemora o deputado.

Uma ajuda difícil de ser encontrada

A dependência química virou um problema comum para famílias de Joinville. O que antes parecia distante, cada vez mais se aproxima das famílias, não importando a classe ou a cor. O medo, misturado com a paranóia, o roubo junto com o homicídio e a prostituição sintetizam a vida de muitos usuários de drogas. No entanto, esse problema não destrói apenas o viciado, mas, desestrutura todos em sua volta, como aconteceu com Joelma Gomes Luiz, de 43 anos, que aos poucos viu o filho, J.G.L., de 19 anos, se perder no crack.

Afastada do seu local de trabalho por problemas pessoais, ela aguarda a volta do filho para casa. O garoto, apesar de pouca idade, já perdeu alguns anos por causa da dependência. No começo eram roupas trocadas pela droga, mas depois começou pequenos objetos e até aparelhos de DVDs e outros eletrônicos. Tudo sumiu da residência em poucos dias.
“Começou sumir dinheiro. Depois faltaram três cheques em minha carteira. Fui à delegacia registrar Boletim de Ocorrência e meu filho estava do meu lado. A princípio ele negava. Tudo que tinha dentro de casa ele carregou. Ele dorme até as 14 horas e sai à noite para usar a droga”, lamenta Joelma.

Solução na igreja
A “via crucis” da mãe por um lugar para interná-lo foi árdua. A primeira dificuldade foi clínicas para reabilitação. Segundo Joelma, todas as instituições eram a cima de R$ 1 mil, ou seja, dois salários mínimos, coisa que muito brasileiro não consegue ganhar com 220 horas trabalhadas no mês. A segunda complicação para a mãe e filho foi o poder público não ofertar clínicas.

No final, quase desistindo, Joelma conseguiu para o filho a Fazenda Esperança, um órgão ligado a igreja e que oferece uma área rural para dependentes ficarem longe do tóxico. Por doze meses J.G.L vai morar no local.

Falta de recursos é generalizada

Segundo o deputado, a estrutura existente em Santa Catarina, que não recebe qualquer tipo de recursos ou possui convenio com o governo, oferece apenas três mil vagas para uma demanda que cresce assustadoramente. Kennedy entende que assim que o projeto for apreciado e virar lei, as vagas deverão aumentar. “As drogas não são apenas um problema das famílias dos dependentes, é uma questão de governo. Até agora não existia estrutura para se tratar o problema na saúde pública, e assim que for sancionada a lei, o repasse não dependerá mais da vontade do gestor.”, observa. A assistente administrativa da Associação Opção de Vida, Dalva Hille Shaim, revela que a maioria das famílias não tem condições de arcar com o tratamento para livrar seu ente das drogas. “O custo de cada interno é de R$ 800, porém, apenas 25% dos internos pagam.” Ela conta que a associação mantém um convênio com a prefeitura através do projeto “Porto Seguro” que destina aproximadamente R$ 3 mil para custear oito vagas. “É um valor bem abaixo do que gastamos com o interno, que custa R$ 20 por dia”, lamenta Dalva.

Outras frentes para combater as drogas

O deputado garante que sua luta contra o problema não cessará com a aprovação da sua lei. Ele explica que aliado a isso, também é necessário trabalhar na prevenção para se evitar que o jovem tenha o primeiro contato com as drogas. De acordo com ele, essa é outra forma de deter o alarmante aumento de usuários de drogas. “É nesse ponto que entra o papel da educação e de campanhas intensivas alertando dos perigos e das consequencias do uso de entorpecentes”, avalia o deputado. Para o parlamentar, outro problema é a discriminação de quem fez uso de drogas. Segundo Kennedy, mesmo depois de estar devidamente reabilitado, o recuperado encontra sérias dificuldades para voltar ao mercado de trabalho. “Temos que qualificar profissionalmente aqueles que se recuperam das drogas para que ele não volte para elas. Para isso, também é necessário que se crie uma política que beneficie o empresário através de incentivos fiscais para que dê oportunidades ao recuperado.”, comenta. A difícil situação é confirmada pela Associação Opção de Vida, que apesar de não ter esses dados registrados, vivencia muitos casos onde o recuperado é discriminado.


ROGÉRIO GIESSELrogerio@gazetadejoinville.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário